W115 240D 1974 Nova Aquisição e Dúvidas

Caros confrades,

   Faz 15 dias que comprei uma MB W115 240D 1974. Ainda a estou conhecendo embora já tenho andado bastante com ela. Fui por curiosidade vê-la através dum anúncio, uma vez que era perto do local onde moro.

   Logo à primeira, o que me chamou a atenção foi o estado de preservação, principalmente dos detalhes originais, completo, sem que faltasse nada. Foi trazida pelo proprietário para o Brasil em 1977, após 3 anos de uso em Portugal. Com isso, tem todo o histórico de notas fiscais de importação. Assim permaneceu na família até eu comprar. O proprietário morreu há 9 anos e ficou num processo de inventário todo este tempo, tendo a viúva a herdado, porém não a usou, manteve-a guardada coberta por lençóis todo esse tempo. Ao final do inventário, arrumou um mecânico que a fez funcionar de novo e assim se iniciou o processo de venda.

   O carro anda muito bem, pega de primeira, não fuma nada, acelera bem e tem boas retomadas. Troquei o óleo do motor e o filtro, foi também trocado o filtro do diesel que estava uma lástima, vermelho escuro enlameado e com muitos detritos no fundo do cálice parecendo lama e partículas de ferrugem. Após essa troca o desempenho do carro melhorou mais ainda. Agora será a vez de trocar os óleos da caixa, transmissão e fluido de freios. 

   Caixa é muito silenciosa assim como o diferencial. Suspensão parece nova de tão silenciosa e macia. A direção veio com um pouco de folgas nas ponteiras que já foram trocadas e agora está firme e precisa.

   O ponteiro do nível de combustível vinha travado no painel, foi tirada a boia e constatou-se que ela internamente tinha muita ferrugem e uma lama, o que travava a boia. Foi dada uma olhada para o interior do tanque e viu-se a presença de muitos sedimentos de ferrugem no fundo, o que pressupõe a necessidade duma boa lavagem do tanque, e embora ele ande bem, deverá também fazer uma revisão do sistema diesel.

   O carro não apresenta ferrugens, olhei todos os pontos críticos e não há ferrugem nem podres. Veio com o sistema elétrico bastante comprometido, mas já foi todo reparado. Até o tapete da mala ainda é o original sem rasgos ou quebras.

   A pintura do carro está muito bonita, mas não é original. Ela veio branca de fábrica, tendo sido toda desmontada para ser pintada na cor atual, não havendo vestígios de borrifadas de tinta nas borrachas nem nos frisos.

   Os bancos vieram com umas capas aveludadas que segundo a senhora foram feitas para preservar o estofamento original que estava impecável e lhes causava suor nas pernas e no corpo nos dias mais quentes. Dei uma olhada num banco e o estofamento original está lá muito bem conservado.

O motor é seco sem vazamentos de óleo.

   Primeira dúvida e talvez a mais importante: com que tipo de diesel o devo abastecer, diesel comum ou S-10? A senhora (e idosa) que me vendeu o carro só sabia que chegava ao posto e pedia para abastecer com diesel, mas não sabia que diesel lhe colocavam no tanque. Há muitas dúvidas em relação ao uso do S-10 em carros antigos, visto ele ser mais propenso a reter água e numa reação química produzir H2SO4 (ou H2SO3). Parece que as bombas injetoras antigas que não estão preparadas para isso, e ficam seriamente danificadas. Outros dizem que não tem problema algum, e que os carros antigos trabalham melhor ganhando mais potência e emitindo menos poluentes.

   Há algumas mangueiras de combustível muito ressecadas, sem flexibilidade, e a dúvida é: podem-se usar as mesmas de carros a gasolina ou tem que ser algum tipo de mangueira de borracha especial apropriada para diesel?

   O carro só tem um filtro para o diesel, tenho visto por aí que costumam ter dois filtros, se assim for, o filtro primário está em falta, ou será que esse modelo não usava esse filtro primário?

   Outra dúvida, como há muita ferrugem no tanque, será que eu poderia instalar um filtro de gasolina à saída do tanque (provisoriamente), até que a lavagem do mesmo seja feita?

   Agradeço a todos que me puderem ajudar e seguem algumas fotos do carro.

   Abrs a todos, Rui Gabriel

   Abrs. Rui Gabriel[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]

   Muito obrigado confrades MarcaoF e Pedroalexrj. Sabia que não há muitas 240D no brasil, mas não imaginava que houvesse tão poucas.

   Algumas fofocas: contrariando o ditado "nada mais caro do que uma estrela barata", só tenho tido boas e agradáveis surpresas com o 240D. 

   Inicialmente o carro veio com a parte elétrica bastante comprometida, nada ou quase nada ligava ou acendia. Usei o velho e barato método DIY e eu mesmo consertei toda a parte elétrica, agora está 100%. Painel de instrumentos funciona todo, e até o relógio Quartz restaurei. Não atrasa nem adianta um minuto sequer. 

   Depois de muito pesquisar na internet, aprendi que nestes carros a regulagem de válvulas é fundamental para o bom funcionamento do motor. De novo usando o método DIY, abri a tampa de válvulas e eu mesmo as regulei. Estavam muito desreguladas, folgas excessivas na admissão e válvulas de descarga com folgas bem menores do que as recomendadas. Mas aí veio a surpresa, a tampa de válvulas internamente estava absolutamente limpa, o comando de válvulas parecia cromado bem como os seus mancais, a corrente limpa  sem resíduos de borra de óleo. Com uma luz, dei uma olhada para as engrenagens até onde deu para ver, elas estão todas limpas. Minha conclusão: o motor do carro deve ter sido recondicionado ou até mesmo retificado antes de ter ficado parado durante o processo de inventário. O ponto do comando está batendo rigorosamente certo com o da polia do eixo de manivela, o que pressupõe não haver folga da corrente e o esticador esteja bom. Talvez por isso se explique o fato de eu ter trocado o óleo e depois de ter rodado cerca de 250 km, o nível do óleo não ter baixado nada. Depois fui para a pesquisa de regulagem do motor OM616, foi difcil mas achei uma matéria técnica muito boa sobre esse assunto e de novo usando o método DIY eu mesmo o regulei. A regulagem faz-se pelo parafuso de abertura da borboleta de admissão de ar do coletor, e aí vem o grande segredo, as hastes que vão da borboleta para a bomba de injeção têm que ter uma medida milimetricamente certa. Ajustadas essas medidas que também estavam fora do recomendado, o motor ficou um relógio. Aqui no Rio num sábado à noite no elevado Paulo de Frontin pisando pouco no acelerador o carro atingiu 100 km/h sem qualquer esforço. Para completar as fofocas, foram colocados pneus novos com alinhamento de direção, ficou precisa sem puxar para nenhum lado, Trocou o fluído de freio e da embraiagem bem como os óleos da caixa e do diferencial.

   O escape dele fazia um ronco irritante de carro de fórmula I barato. Tinha como intermediário um silencioso esportivo. A Isa aqui no rio ficou de conseguir um original mas não conseguiu. Fui à loja de escapes aqui perto de casa e descrevendo ele para o vendedor, ele disse-me que talvez o mais parecido fosse o do Omega. Mostrou-me e também não vi grande diferença para o original, foi colocado e agora sim, o carro tem ronco de Mercedes.

   Quanto ao ar condicionado, comprei o carro com ele parado. A proprietária disse-me que ele sempre funcionou, mas um dia pifou. Levei para dar uma carga de gás, mas durante a carga começou a pingar óleo da base do compressor. Diagnóstico: junta da base do compressor fissurada. Para embaratecer o conserto, eu mesmo tirei o compressor fora, mas foi uma trabalheira do cão. Depois levei o compressor à loja onde eles trocaram a junta e aproveitando que ele estava aberto fizeram uma limpeza interna nele e colocaram óleo novo. De volta montei-o e retornei lá para dar uma carga de gás. Após isso funcionou muito bem, e está funcionando perfeitamente até hoje.

  Enfim, o carro depois que liga não para mais, me parece bastante confiável, preliminarmente faz uma média de 9.5/10 km por litro de diesel e é um forte candidato a placa preta brevemente, o que me deixa muito contente.

   Abraços, Rui Gabriel

Olá MarcaoF,

   Como como está na resposta para o Raposo elas vão ser trocadas. A dúvida por enquanto é que tipo de mangueira usar, será que as de gasolina vão bem em diesel? 

   Quando comprei o carro  há dois meses, troquei à experiência, uma pequena porção de mangueira da linha de alimentação por uma nova para gasolina que sobrou das manutenções do 250CE. Esta semana removi-a e verifiquei o estado interno dela. Estava intacta sem ameaças de deterioração da borracha por ação do diesel, pelo menos ao exame visual.

   Quanto às capas, eu sou pelo mais original possível, mas são de um conforto... têm uma camada de espuma grossa por baixo que deixa os bancos do carro parecendo as poltronas da sala de estar... rsrsrs. Mas se eu vier a fazer uma placa preta elas serão sem dúvida removidas.

   Grande abraço, Rui Gabriel

Bom a dia a todos,

   Obrigado pela dica das mangueiras de tecalon, machadosl, curioso que sou por mecânica, não as conhecia.

   Coronel, quanto ao S10, já li inúmeras matérias na internet sobre o uso dele em carros antigos, mas nenhuma delas foi conclusiva. Tem quem afirme que só traz benefícios, e tem quem afirme que no médio e longo prazo traz prejuízos irreparáveis à bomba injetora. O meu por enquanto está como desde que o comprei, abastecido com S10, até por que, não encontro diesel comum em posto algum. Dizem-me nos postos onde o procuro, que só encontrarei facilmente nas estradas. A Auto Isa aqui no Rio aconselha o uso de diesel comum, não deve ser por acaso... porém a sua experiência em usá-lo, já me traz mais tranquilidade.

   Quanto ao tanque, muito boa a sua dica, realmente o bocal do tanque está todo escamado de ferrugem, essa limpeza urge para que seja feita. Vou começar a me movimentar para descobrir aqui no Rio quem a faça.

   Este fim de semana foi mais um fim de semana de DIY. Consegui tirar todas as folgas dos terminais esféricos das varetas de aceleração. Essas folgas faziam com que a alavanca de aceleração da bomba injetora só começasse a atuar depois que a borboleta de entrada de ar abrisse quase 0.5 cm. Isso provocava uma pequena defasagem entre pisar no acelerador e o carro responder. Parecia que havia um vácuo até o carro começar a acelerar. Agora está perfeito.

   Este é o meu primeiro diesel, depois de anos procurando um diesel antigo aqui no Rio. Está me encantando, até por que o meu como antigo que é, tem um sistema de alimentação muito simples, intuitivo e livre de eletrônicas. 

   Quanto ao consumo de combustível nem se fala, depois de 23 anos de W114 a gasolina e beberrões, o 240D me faz esquecer que precisa de ser abastecido, não esquecendo, que toda a quela parafernália de carburadores complexos, velas, cabos de velas, distribuidor, platinado, capacitor e bobina, não existe para dar dor de cabeça. O filtro de ar é a óleo, não precisa de ser trocado, somente precisa de uma limpeza periódica.

   Abraços a todos, Rui Gabriel

   

   Aqui vai um vídeo do passeio dominical com a 240D. A parte mecânica está praticamente toda restaurada e funcionando perfeitamente. Está com um ótimo isolamento acústico do motor, quase não se ouvindo ele funcionando dentro do carro. No posto onde mandei fazer uma "geral", o dono reconheceu o carro da época em que o antigo proprietário. Sr. Acácio, ia lá. Disse-me ele, que era o xodó do Sr. Acácio e que nunca lhe faltava com nada. Em uma determinada altura, o Sr. Acácio comentou com o dono do posto que o motor do carro ia dar problema, e que então o iria retificar. Mandou vir as peças de Portugal e assim fez, retificou-o. Talvez por isso, após 400 km rodados por mim, ele ainda não tenha gasto uma gota de óleo.

   Pois é Sérgio, o mundo é pequeno... Fico imensamente feliz, por você, ser mais uma pessoa a reforçar a boa procedência dele. 

   De fato esse carro pertenceu ao Sr. Acácio e me foi vendido pela viúva dele, D.ª Florinda. Faleceu há 9 anos, tendo permanecido parado todo esse tempo, por conta do inventário. 

   Eu andava namorando uma W123 diesel anunciada em Copacabana, até que um dia, como era perto da minha casa, resolvi ir vê-lo mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa. A primeira impressão foi de mais um carro caidinho, nada ligava, nada acendia. O motor só faltava pular do cofre de tanto que vibrava. Barulhos por toda a parte, sem falar no som irritante emitido pelo escapamento. Mas chamou-me a atenção o estado de preservação da lataria e dos itens originais dele. Eu até encaro carros com problemas mecânicos, mas podres e enferrujados nunca, e este 240D aparentemente não estava com a lataria comprometida. Depois aqui em casa, percebi que havia ferrugem por baixo das mantas de asfalto dos assoalhos, no resto do carro não há ferrugens. Foram retiradas essas mantas, as ferrugens foram removidas e tratadas (longe de haver buracos). Foram então colocadas novas mantas de asfálticas com nova pintura. 

   Encontrei através do ML, um fabricante em S. Paulo que faz tapetes para as carrocerias W114/W115. Encomendei-os e caíram como uma luva. O motor está muito bom, mas ainda tem um detalhe que não me agrada, usando a subida da Rua Maria Amália aqui na Tijuca como ladeira de testes, o carro sobe em 2ª marcha se desgoelando um pouco, não sei se são os seus modestos 4 cilindros e 62 hp de potência ou se a bomba injetora está um pouco fora de ponto. Ainda há muito o que melhorar nele. Seguem fotos da restauração do assoalho, dos tapetes novos instalados nele e do intermediário dum Omega que foi colocado e praticamente idêntico ao original MB.

    Grande abraço, Rui Gabriel[Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar esta imagem]

   Confrade Marujo_BSB, obrigado pelo elogio, realmente o carro arranca olhares por onde quer que passe. Quanto à cor, ela não é original de fábrica (saiu de fábrica com o branco 050 G), mas o proprietário anterior teve muito bom gosto quando escolheu este vermelho metálico para pintar o carro.

   Abraços, Rui Gabriel