Como se comporta o novo Mercedes-Benz Classe E

O Curioso Caso de Benjamin Button (conto de 1922, de Scott Fitzgerald) poderia muito bem narrar a história dos 60 anos de sedãs médios da Mercedes-Benz: a cada geração, eles ficam inexplicavelmente mais joviais. Pensando bem, há explicação. Considere as vindas da marca Smart (1998), do sedã-cupê CLS (2004), da versão cupê da Classe C (2012) e a recente chegada do minisedã-cupê CLA: fica fácil de enxergar que isso não é nenhum fenômeno sobrenatural, mas, sim, uma estratégia de longo prazo da marca para se livrar do estigma conservador e abraçar cada vez mais o público jovem – em bom português, compradores de BMW e Audi.

O marco desta vez é que o rejuvenescimento acertou em cheio o pilar do público mais tradicionalista da marca: o sedã tamanho-família  Classe E. Tecnicamente, é apenas um facelift da geração W212, mas não se trata só de reestilização. O novo E traz profundas mudanças  mecânicas, incorpora uma porção de novos recursos de assistência ao motorista e ganha terno novo, com pouco elastano na composição dos  fios e corte mais acinturado.

Vamos começar pelo que salta aos olhos: a mudança no conjunto óptico dianteiro. Além de dizer adeus aos faróis duplos, as novas peças incorporam a assinatura de LEDs – curiosamente, ela simula lentes duplas.  E ainda ganham sistema ativo de defletores que permite que você use o farol alto em estradas escuras sem ofuscar o carro da outra mão – os defletores acompanham a trajetória do outro veículo, criando um cone de sombra sem o facho intenso. É uma bela evolução em relação ao sistema antigo, que só desligava o farol alto.

Entre os olhos também está o detalhe que denota o dilema de identidade de Benjamin Button: a Mercedes quer deixar o Classe E mais jovem – mas como fica o público mais conservador? Os caras resolveram isso oferecendo duas opções de grades: a mais clássica (versões básica e Elegance), com três barras horizontais afiladas e o emblema no capô, e uma mais esportiva (Avantgarde), com identidade mais dinâmica, lembrando o Classe C e o CLS. De acordo com a marca, é provável que somente a última venha ao Brasil.

Os mais atentos vão perceber mudanças em detalhes delicados, como o capô vincado, o sumiço do ressalto no para-lama traseiro inspirado no antigo Ponton, o friso cromado, que acompanha toda a linha inferior, e as novas lanternas traseiras. De acordo com o designer Robert Lesnik, as mudanças vieram para deixar o sedã mais esguio. Como parte do rejuvenescimento, o cluster agora traz os instrumentos em copos individuais em todas as versões e você pode substituir os novos apliques de madeira do painel por alumínio. Mais um detalhe: como no Classe S, o painel recebeu um relógio analógico.

O novo Classe E traz um pequeno exército de assistentes. Por exemplo, há sistemas para estacionar o sedã automaticamente, prevenir colisões (prepara os freios com máximo potencial e até freia automaticamente em velocidades abaixo de 50 km/h), para manter o carro entre as faixas de rolamento (ele chega a esterçar o automóvel levemente) e há o controle automático de velocidade inteligente (se adapta à velocidade máxima permitida, detectada pelo sistema de leitura de placas). Combinado a tudo isso, a direção vibra em determinadas circunstâncias para alertar o motorista, como ao invadir acidentalmente a faixa vizinha ou quando se perde a entrada de via determinada pela rota do GPS. O sistema de câmeras de estacionamento foi aprimorado e, agora, cria uma projeção vista de cima do carro, com 360° de visão.

O conjunto mecânico também ficou moderninho, seguindo a tendência do downsizing: a princípio, nós teremos duas opções de motor para a Classe E, ambas turbinadas, com injeção direta de combustível do tipo piezo e duplo comando de válvulas variável na admissão e escape. As duas utilizam o câmbio automático de sete marchas 7G-Tronic Plus. A 250 tem motor quatro cilindros de dois litros, 211 cv e uma patada de torque de 35,6 mkgf a apenas 1.200 rpm – a sensação de empuxo nas retomadas é de um belo V6 aspirado. Este conjunto acelera de 0 a 100 km/h em 7,4 s.

Para quem tem o pé direito mais pesado, há a versão 400, com um V6 de 3 litros biturbo, 333 cv e 48,9 mkgf de torque a 1.600 rpm – este cara chega aos 100 km/h em 5,9 s (dados de fábrica). E, claro, como todo seis cilindros, tem um ronco rouco bem bacana. O novo Classe E está previsto para chegar ao País em setembro, quando deve ficar alguns meses mais jovem.

Para quem não tem nenhum juízo no pé direito, não existe educador melhor do que a estupidez dos mais de 500 cv do novo motor V8 5.5 biturbo, que equipa as versões esportivas da AMG S63, CLS63, E63 e ML63. Você vai aprender a ser gentil com o acelerador na marra. O E63 tem 585 cv, além de alguns diferenciais de acabamento, como as pinças vermelhas e as rodas com raios em titânio de aro 19. E faz 0 a 100 km/h em 3,6 s!